Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 24 de julho de 2011

das estranhezas que sonhei esta noite

Sonhei que perdi (ou esquecia) o prazo de entregar os trabalhos de três disciplinas do doutorado, e eu ficava sem entender como, uma vez que já de posse do título deixara de cumprir obrigações bem anteriores à sua aquisição. Falava com meu orientador, e o que ele dizia não me orientava, e voltava para o impasse de, em um fim de semana, providenciar a escrita dos trabalhos de cujo prazo de entrega eu me distraíra, confundira as datas, mas já era 28 de fevereiro, em primeiro de março o novo semestre começaria... e a coisa continuava naquela circularidade típica de sonhos. Acordei aliviada de perceber o impossível da situação. Mas isso me levou para outra recorrência acadêmica, no plano dos sonhos. Durante certo tempo sonhei que abandonava uma disciplina na graduação, das optativas ― dentre um repertório em que o estudante é obrigado a escolher um número x de disciplinas, daí que eram chamadas de optatórias, afinal se era obrigado a optar ― sonhei que abandonava e não conseguia retomar, e aquilo ficava girando sobre si mesmo no sonho, como se eu tivesse que voltar ao passado para reparar uma obrigação não cumprida. É fato que me deixei reprovar uma vez na universidade, numa optativa que não me prendia muito o interesse, mas depois me matriculei novamente e levei até o fim. Se minha formação acadêmica está me mandando recados através desses sonhos eu não sei, mas uma coisa é certa: eu sempre gostei de estudar, e não tenho escrito nada academicamente nos últimos tempos: está tudo parado, pelo menos naquela exterioridade do moinho da vida. Mas os sonhos desta noite não terminavam muito bem, a sugerir que há outros moinhos que também não estão recebendo ventos favoráveis, aliás vento nenhum, porque tudo ia em direção a uma incômoda e áspera paralisia. Porque o vento sopra mesmo em todas as direções, e talvez o recado desta noite seja este, quais os ventos que estão cá movendo os moinhos dos meus sonhos. 

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