Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

como não?

Ouvi hoje de uma colega de profissão que era imprescindível uma roupa nova para a virada do ano. E então, tomando de empréstimo o Verissimo, me ocorreu que sempre me espanto um pouco mais com a variedade humana. Somos todos da mesma espécie, mas o que encanta uns horroriza outros. Atenuando esses extremos, o que encanta uns espanta outros. Nunca essa coisa de roupa nova havia se colocado antes para mim, mesmo como uma possibilidade. A ideia, à parte a suscetibilidade à nuvem dos discursos, era-me até então indiferente. Este ano pensei mesmo em fazer algo totalmente diferente, uma viagem para um lugar sossegado, reservado e aprazível. Para o próximo ano não está descartada a ideia. Mas por que me lembrei agora da sugestão da roupa nova? Porque estou buscando uma nova roupagem com que vestir meu ser ― o mesmo que sentir em si algum sopro de renovação. Queria poder trocar de roupa por dentro, dar-me de presente novos trajes. Agora talvez esteja entendendo a simbologia da roupa nova na passagem do ano. E porque, via de regra, são roupas brancas. 

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