Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

um acaso

O acaso, esse misterioso senhor, ajuda a tecer enredos ou está inscrito neles? Quando Machado de Assis, nas Memórias póstumas, referiu-se ironicamente ao pobre destino como grande procurador dos negócios humanos, pilheriava, com seu ceticismo, qualquer esforço de transcendência que alguém pudesse fazer, afinal nosso único legado seria a miséria ― naturalmente tinha em mira a miséria espiritual. Acontece que hoje o acaso me foi bastante generoso, sem eu precisar imaginar uma mão oculta do destino. O que preciso, mesmo, é escrever sobre isso, sobre qualquer coisa que me soe com um sentido diferente do previsível, que possa inclusive contrariá-lo. 

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