Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"traduzir aprende-se traduzindo" (Paulo Rónai)

Há um blog que sigo, que descobri inteiramente por acaso, nomeado não gosto de plágio, e que presta um enorme serviço de utilidade pública, não só ao confrontar traduções e tradutores, como ao discutir o ofício da tradução. É o que se passa no post que reproduzo a seguir, remetendo para aqui:

encontro hoje uma encantadora palestra de paulo rónai, nos idos de 1985, no departamento de letras da universidade federal do paraná. gosto muito e partilho dessa visão da tradução como ofício artesanal.

Traduzir aprende-se traduzindo. Os artesões de antigamente formavam-se como aprendizes ao lado de um mestre, com quem passavam longos anos. É muito difícil encontrar um mestre tradutor que aceite aprendizes. Os cursos de tradução ensinam os conhecimentos básicos indispensáveis ao métier, mas o modo de fazer é objeto de aprendizado individual. Cada tradutor deve ser seu próprio mestre. Ele mesmo deve inventar seus exercícios, confrontar um original com alguma tradução impressa, comparar a sua própria tradução com uma dessas versões, justapor duas ou mais versões do mesmo texto, organizar sua relação de falsos-amigos, de expressões idiomáticas, de equivalentes sintáticos. É preciso resignar-se à gratuidade desses exercícios antes de se atrever a fazer traduções remuneradas. O lema horaciano – Multa tulit fecitque puer, sudavit et alsit ("muito fazer e suportar em jovem, suar e tremelicar") – aplica-se ao tradutor como a ninguém.

a palestra foi publicada pela revista letras, n. 34 (1985), às pp. 186-195, com o título cascas de banana no caminho do tradutor. Disponível aqui.

Fecha aspas. 

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