Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 26 de fevereiro de 2011

em território de Alice

Vi-me, em sonho, em território de Alice: pagando tributos em demasia, fazendo muitas reverências a Vossa Majestade. Os pronomes de tratamento não são aprendidos/ensinados impunemente: junto com eles apreende-se uma/a hierarquia. Mas, por outro lado, é uma maravilha poder aprender a língua, pois apreendem-se outras formas de dizer uma coisa, que é, quem sabe, dizer outra coisa. Então sonhei-me, confusamente, em território de Alice: havia reis e majestades, havia tirania, então entendi tratar-se do território de Alice. Mas dizer território de Alice é dizer de uma posse. Jamais posso me esquecer que ensinei isso aos alunos: “Vossa Onipotência ―” (assim, dessa forma, com um travessão em seguida) é o pronome de tratamento destinado a Deus, e não se usa, conforme a gramática que consultei, de Evanildo Bechara, abreviadamente, ao contrário dos demais, que admitem abreviatura. Deus seria tão vasto que não admitiria sequer ser sequestrado na/pela linguagem.

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