Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 1 de maio de 2011

sobre a plantinha do post anterior

Nos pastos de minha infância, deparava-me com uma planta mui graciosa, conhecida popularmente como dormideira ou sensitiva. Era do tipo herbácea, crescia pouco. A graça estava nas flores, que a um leve toque se fechavam. Gostei quando descobri seu nome científico, traía muita coisa de feminino. Pois bem. Ao justificar meu silêncio a uma amiga mais do que querida, lembrei-me da tal plantinha, dizendo-me no momento uma sensitiva ao contrário: reagindo a estímulos. Passiva, portanto. E uma estranha paz me invadiu. Não sei se paz e passividade têm mais em comum além da sonoridade, mas os pastos da infância dizem-me que os amigos, por serem tais, vão entender o silêncio, o laconismo recente, porque chega uma hora que o afeto fala por si: não é necessário ficar dando mostras, basta apenas estar presente, mesmo à distância, mesmo ausente. A vida de cada um tem demandas próprias, é imperiosa. E escrever continua-me imperioso, aqui meu silêncio entorna em palavras cujo único estímulo parece ser mesmo a necessidade de escrever, de atuar no mundo pela linguagem. Pretensão? Não, escrevo do mesmo modo como tocava aquelas flores (ainda as estou tocando), e as palavras, ao meu toque, se abrem.

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