Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 16 de julho de 2011

do lado de cá

Minha preguiça de sair de casa anda imbatível. Ocorre que liguei para uma amiga, buscando solução para fugir de um programa pouco convidativo. Ela disse que teria hoje um queijos e vinhos com um pessoal conhecido dela, e comentou en passant que se intitulam “do lado de cá”, me convidando. Basta morar no Rio de Janeiro para saber o que é este lado de cá. Então eu, que moro em Jacaresilvânia (homenagem ao belo Castelo dos Vinhos que abre minha rua), sou bem lado de cá, à esquerda da esquerda, quase já um outro lado do lado de cá, que é de lá. E se me conheço bem, embora tenha combinado quase cem por cento certeza, não vou ao queijos e vinhos. É que o canto que me calhou morar no Rio de Janeiro é tão bom (sequer lembra a cidade que vive aparecendo na televisão, nos seus extremos, Leblon e Alemão) que veio perfeitamente ao encontro de minha fome de ler e escrever, de simplesmente estar em casa, maior, certamente, que a vontade de sair, pelo menos por enquanto. Porque quando a pessoa se descobre de posse de alguma coisa muito boa é difícil trocá-la por outra, ainda que pessoas incríveis possam estar à espera. Dizer mais do que isso é desnecessário. Apenas isto, então: minha nova casa deu-me algo que já tive algumas vezes, sem saber que tinha, e que por isso voltava a perder: uma espécie de limite para a rua.

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