Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 10 de julho de 2011

Dogville (ou a condição de órfão)


Para quem suporta levar Dogville até o final, então há uma sequência antológica ao som de Young Americans, de David Bowie. Neste filme todos são jovens e já muito velhos para pisar neste planeta: a crueldade é sua melhor vingança contra o outro indefeso, indefeso porque um pouco mais frágil, apenas isso. A condição de órfão é a de todos: todos caímos na humanidade, e os laços de sangue muitas vezes apenas constituem uma licença maior para o abuso, também conhecido como proteção. O amor recebe muitos nomes, o que não significa que se saiba o que é este sentimento ― ou que ele seja comum ou fácil de sentir. O amor também é o nome que se dá ao que não se sente, palavra vazia a encobrir escusos sentimentos, difíceis de nomear.  

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