Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 17 de julho de 2011

a título de P.S.

No post anterior, ao citar o texto de João César de Castro Rocha, percebi que o autor empregou sem qualquer constrangimento o termo favela. Hoje já não se daria mais assim: uma pátina deliberadamente conduzida pelo Estado introduziu o termo comunidade, o que só vem mostrar que João César estava certo, não totalmente certo, mas estava, ao chamar atenção para a dialética da marginalidade, num artigo, em diálogo com a dialética da malandragem de Antonio Candido, publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo, em 29 de fevereiro de 2004, mesmo dia em que Cidade de Deus poderia trazer um Oscar inédito para o Brasil.

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