Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

William Carlos Williams: Seafarer

Vernon Lee Kerr, Convergence, 1970

NAVEGANTE

O mar virá escavar
mas as rochas ― arestas dentadas
a cavaleiro da toalha de espuma
ou uma corcova ou então pináculos
                      com mergulhões ―
são o homem pertinaz.

Ele provoca a tempestade, ele
vive por ela! repassado
de temores que não são temores
mas aguilhões de êxtase,
um álcool secreto, um fogo
que lhe inflama o sangue até
a frieza pelo que as rochas
mais parecem lançar-se
sobre o mar do que o mar
envolvê-las. Estiram-se
no esforço de agarrar navios
ou até o próprio céu que
se debruça para ser despedaçado
sobre elas. Ao que ele diz,
Sou eu! Eu é que sou as rochas!
Sem mim nada se ri.

SEAFARER

The sea will wash in
but the rocks ― jagged ribs
riding the cloth of foam
or a knob or pinnacles
  with gannets ―
are the stubborn man.

He invites the storm, he
lives by it! instinct
with fears that are not fears
but prickles of ecstacy,
a secret liquor, a fire
that inflames his blood to
coldness so that the rocks
seem rather to leap
at the sea than the sea
to envelope them. They strain
forward to grasp ships
or even the sky itself that
bends down to be torn
upon them. To which he says,
It is I! I who am the rocks!
Without me nothing laughs.

WILLIAMS, William Carlos. Poemas. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p.180-181.

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