Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Hölderlin (em tradução de Manuel Bandeira)

Maduras estão, em fogo emergidas, cozidas
E na terra provadas as frutas. É força
Que tudo penetrem, à guisa de cobras,
Profeticamente e sonhando nas
Colinas do céu. Muita coisa
Devemos guardar como um fardo
De lenha nos ombros. Entanto
São maus os caminhos. Indóceis

Cavalos, trabalham
Elementos e as velhas
Leis da terra. Ah, e sempre ao
Sem peias vai uma saudade. Contudo
Muito há que guardar. É mister a constância
Mas nós não queremos ver nem
Para diante e nem para trás! só queremos
É que nos embalem da mesma maneira
Que o lago num bote.

Manuel Bandeira. Alguns poemas traduzidos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007, p.65.

Nenhum comentário:

Postar um comentário