Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Paulo Roberto Sodré

Prudentemente

Aconselham os sábios
a jogar no silêncio
as palavras sem chance.

(Deixar estes versos quietos
ou oferecê-los à sua surpresa
talvez encontre o mesmo destino.)

Insensato e sem lei, entrego-os.

O tempo arde.
E nada,
nada é tão absurdo
e vão
que não valha o risco
de calar os conselhos
e lançar estes poemas na contramão.

[A parte que nos toca: literatura brasileira feita no Espírito Santo. Org. Miguel Marvilla e Reinaldo Santos Neves. Vitória: Florecultura, 2000, p.193-194.]

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