Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 10 de outubro de 2010

A Pequena Miss Sunshine (EUA, Jonathan Dayton e Valerie Faris, 2006)

É claro que todos (ou quase) assistiram Little Miss Sunshine, essa pérola do cinema independente americano e também um ótimo road movie. O encontro entre seres muito diferentes, que por acaso pertencem à mesma família, é galvanizado pela inocência da little miss sunshine. Um desses encontros é particularmente interessante: o niilista nitzscheano e o fracassado proustiano. Já ao final, eles travam um diálogo, numa espécie de passarela de madeira que adentra o mar (tem um nome para isso, que me escapa agora), numa combinação muito interessante dos dois referenciais citados. Um deles, creio que o proustiano, diz algo assim: os anos de sofrimento foram os melhores da minha vida, pois neles eu cresci. E é de fato assim. A cor amarela domina, viva e brilhante.

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