Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Religião x Estado

Surpreende o avanço da religião sobre o Estado, supostamente laico, no Brasil. O nível do debate político é de constranger qualquer adepto de uma democracia liberal. A hiprocrisia anda na ordem do dia. Um rápido lance de olhos na campanha dos dois oponentes mostra como os termos "família", "Deus", "vida" e congêneres ganhou de repente uma densidade insuspeita. Onde está o Estado laico da Constituição de 1988, tida como uma das mais avançadas do mundo no plano da cidadania e do respeito às diferenças? O que esses fundamentalistas religiosos estão pretendendo? Nesse sentido, gostaria de divulgar um núcleo de estudos da UFRJ (indicado por um amigo) voltado para o debate em torno do Estado laico: OLÉ - Observatório da Laicidade do Estado (link aqui). Não se podem perder de vista as lutas históricas travadas assegurando o respeito às diferenças. Retroceder neste plano é abrir um precedente perigoso. Os Direitos Humanos não podem ser rasurados pela religião, precisam estar acima de suas disputas.

Legenda fornecida pelo site (link aqui): “Essa foto é da maçaneta da porta de entrada da Rath Hauss (Casa da Justiça) da cidade de Osnabrück, Alemanha, onde foi firmado, em 1648, um dos tratados que puseram fim às guerras de religião na Europa. Os tratados que estabeleceram a Paz de Vestfália (região da Alemanha onde fica Osnabrück) admitiam a existência de Estados multirreligiosos na Europa e determinaram a supremacia do poder político (do monarca) sobre o poder religioso (dos bispos católicos ou protestantes, eventualmente do próprio papa). A partir de então, os súditos de quaisquer Estados puderam mudar de religião ou não ter religião alguma, por decisão individual, não mais prevalecendo a religião do soberano. A foto foi feita pelo croata Hrvoje Mikolcevic em 2005, e acessada em 18/12/2009, no endereço http://www.dreamstime.com.” 

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