Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

republicar a república

Foi numa aula. Ao discorrer sobre um filme qualquer, saiu a questão da etimologia da palavra "república", que eu expliquei como vindo do latim res publica, no sentido de coisa pública. Então um aluno perguntou se haveria chance de esse "res" equivaler a "rês". Não, creio que não, disse na hora, pendendo para a certeza, para dirimir de vez a dúvida. Mas faz sentido. Uma república de reses, que não sabem muito bem para onde ir, e que dá a impressão de que vai se deixar docilmente conduzir pelo paulo honório de plantão. Tem sido assim no Brasil, historicamente. É preciso republicar essa república, proclamá-la de novo.

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