Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Alice nas Cidades (Wim Wenders, 1974)

A televisão resolve reprisar o filme de sábado, e assisto enquanto as pestanas não me vencem. Está lá o estilo do cineasta alemão: seres misteriosos, silenciosos, deslocados, mas que não prescindem de humor e certo charme em sua itinerância. Como se trata de um road movie, isso tudo fica bastante marcado. Duas falas, a primeira quando o protagonista ainda está sozinho, a segunda já na companhia da menina Alice, que o acaso lhe trouxe. O jornalista alemão está rodando os Estados Unidos com o fito de fazer uma reportagem que não consegue escrever, e fica no plano do registro das imagens. Não suporta os canais de televisão, as músicas que tocam nas estações de rádio. No carro, ao mudar de estação, diz algo assim: É melhor falar sozinho, se bem que isso seja mais ouvir que falar. Já na companhia de Alice, e na Europa, num daqueles diálogos nonsense que acontecem entre crianças e adultos, numa sintonia fina ela lhe pergunta que tipo de medo ele tem. Ele responde com outra pergunta: existem tipos de medos? À afirmação dela, ele diz: Tenho medo do medo. Segue aqui um comentário inspirado, e no vídeo uma apresentação pelo telecine cult.

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