Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O ESPÍRITO DA COLMEIA (Victor Erice, 1973)


O espírito da colmeia é um filme bastante difícil, a que assisti num espaço alternativo em BH, o Centro Cultural de Belo Horizonte. Como sempre, dada a minha dificuldade de falar de certos filmes, remeto o leitor a comentários mais consistentes (aqui, aqui, aqui, aqui...). Me ficou do filme a atmosfera de medo envolvendo tudo, inclusive o espectador, as fantasias que movem a menina Ana assustadoramente em direção ao monstro Frankenstein, a atmosfera de sonho e solidão que pauta aquelas vidas, o final nebuloso, como se fosse um sonho. Tudo é muito nebuloso do que retive. Quando a menina finalmente encontra o monstro eu não suportei a cena e fechei os olhos. Não sei o que aconteceu. Talvez só assistindo novamente para ter uma dimensão menos assustada, "racional" e traduzível do filme, até onde isso for possível. Mas sempre lembrando que um filme é também o que dele nos atravessa. Não suportar uma cena é ser atravessado de alguma forma. Como os melhores filmes de minha vida eu assisti em Belo Horizonte, uma cidade especialmente devotada ao cinema, segue uma lembrança do espaço que me propiciou o contato com essa obra-prima. 

Imagem obtida aqui.

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