Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 18 de dezembro de 2010

O homem que copiava (Jorge Furtado, 2003)

O homem que copiava é um filme sobre impossiblidades. Antes, um filme sobre o que é verossímil quando o assunto é ficção. Os sonetos de Shakespeare não são gratuitos, como nada é gratuito neste filme que é o melhor, talvez o único filme de fato, excetuando-se o excelente curta Ilha das Flores (aqui), do diretor Jorge Furtado. Não há sinopse ou resenha que dê conta de O homem que copiava, pois o que está em jogo não é a história em si, é o narrar, como criar e tornar verossímeis personagens e situações. Talvez Jorge Furtado tenha lido algo da teoria da causalidade de Jorge Luis Borges na narrativa romanesca. É um filme para se assistir pelo prazer da narrativa. E como nada é casual no filme, aparece no final uma misteriosa galinha, numa excelente sacada do diretor. Na revista Contracampo (aqui) há um depoimento sobre o filme, atribuído ao diretor. Mas o melhor talvez seja não conferir e ir direto ao filme, tentar decifrar seu enigma, o enigma da galinha, os enigmas de André (Lázaro Ramos) e Sílvia (Leandra Leal), contrabalançados pelas armações de Marinês (Luana Piovani) e Cardoso (Pedro Cardoso). Todos em atuações impecáveis e cheias de humor. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário