Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Emily Dickinson

As coisas que queríamos ter feito
Outras fizemos
E a tantas empreitadas
Nem começo se deu ―

As terras que queríamos ter visto
E nunca percorremos
A Hipótese deixada
Hipótese morrer ―

O Céu onde queríamos descanso
De tudo que sofremos
A Lógica não prova
Porém esse talvez ―


The things we thought that we should do
We other things have done
But those peculiar industries
Have never been begun ―

The Lands we thought that we should seek
When large enough to run
By Speculation ceded
To Speculation’s Son ―

The Heaven in which we hoped to pause
When Discipline was done
Untenable to Logic
But possibly the one ―

DICKINSON, Emily. Alguns poemas. Trad. José Lira. São Paulo: Iluminuras, 2008, p.102-103.

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