Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Alexei Bueno

ISOLAMENTO

Todo o ruído passa. O ruído é muitos.
Uno é o silêncio, e eterno.
Assim a noite, entre os dias fortuitos,
Ergue um só rosto interno.

E entre uma e os outros nós andamos, juntos
No único tempo, o agora.
Mas nem aqui, nem nos dias defuntos,
Seremos na mesma hora.

Pois esta que é e as que não são, unidas,
Separarão sem pena
As nossas almas, nossas mãos perdidas
Da mão que nos acena.

BUENO, Alexei. Lucernário. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003, p.249.

Nenhum comentário:

Postar um comentário