Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 11 de dezembro de 2011

amar as palavras

Repousar o ser no sofá do esquecimento ― não pensar. Que seria de mim sem a escrita, sem a poesia de Álvaro de Campos?

Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e refluxo da vida...

Escrever é ver as palavras alinhadas umas após outras, é perceber as letras nas palavras, é descobrir uma sintaxe própria. Saber que outra palavra, a palavra seguinte, pode ser também outra, outra porta, fechada ou aberta, não se sabe. Se fechada, há que se pensar nas palavras que vão desenhar a chave para abri-la. Enquanto isso, o mundo corre, com pressa, afoito, corre, para, corre mais, e as palavras, quando desejadas intensamente, escorrem dos dedos para o branco virtual do papel. Amar as palavras sobre todas as coisas, eis um mandamento. Amar as palavras é uma forma de amar o outro sem precisar se esconder. 

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