Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 17 de dezembro de 2011

contas

O que se consegue saber de um sonho? Aquilo que consegue encontrar uma narrativa. Por isso escrevo sobre meus sonhos aqui, porque desejo entendê-los. Sei que sonhei muita coisa desconexa esta noite, envolvendo pessoas conhecidas ou não. Digamos que as situações, mais do que as pessoas, mereceriam o estatuto de familiares ou não. E do intrincado de situações uma se fixou mais concretamente na memória: eu delegava a alguém o poder de pagar minhas contas, repassando-lhe o dinheiro e os dados bancários. No entanto a operação não dava certo, e o atraso acabava multiplicando o valor da conta a ser paga. O que pensei depois foi qual seria a simbologia disso, por que eu estaria terceirizando a simples (ou não tão simples assim) ação de pagar as contas. Sou uma pessoa que mantém relações complicadas com essa coisa chamada dinheiro, embora paradoxalmente generosa. Digamos que há certos gastos que me incomodam. Mas não creio ter sonhado literalmente com dinheiro. Sonhei com a responsabilidade de assumir o ato de arcar com as minhas contas, aquelas que preciso pagar. Substituindo contas por escolhas (e pensando em ação e consequência), então eu estaria titubeando diante de escolhas que preciso fazer. Mais do que isso: fechar os olhos para contas que são minhas é uma forma de me esquivar delas, ainda que o custo material redobre. No entanto, enquanto meus olhos estão fechados dormindo, abrem-se para essa realidade desconfortável que é o dinheiro passando pelas mãos, por mais asséptica que tenha se tornado a movimentação do dinheiro na atualidade. O que acho estranho em tudo continua sendo delegar o ato de pagar uma conta a um terceiro num terminal de auto-atendimento. Uma coisa que posso fazer perfeitamente bem e sozinha. 

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