Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Armando Freitas Filho (a decisão do azul)

VIAGEM

Pregado no céu, o gavião feito
de paciência e espaço
permanece cruzando, quase único
a estrada que atravessa, e toca
nos possíveis violinos silvestres
que o vento afina lá dentro
da mata veloz que passa
na janela do carro: zás, zap
na paisagem ― a decisão do azul.
Asas paradas e o olhar duro que
o asfalto e a distância alimentam.

Boa companhia: poesia (Org. José Almino). São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p.99.

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