Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

minhas tímidas experiências com o Reiki

Retomei ontem minha incursão pelo Reiki. Na realidade, o que quer que exista em mim de religioso ou "espiritual" é um província que está me exigindo, depois de anos, muitos, não digo abandonada, mas relegada a camadas adormecidas de meu ser. Não suporto a religião institucionalizada, a própria edificação me sufoca, fere minha sensibilidade. Só entro em igrejas em situações pontuais, momentâneas. Mas se entro em igrejas a necessidade está posta. Então é preciso admitir a necessidade. Quando comecei o Reiki em 2010, não suportei passar de três ou quatro tentativas; de repente alguma coisa nova, estranha e muito forte foi posta em movimento. Interrompi, me distancei, mas até hoje não entendi o que aconteceu. Não se mexe em uma província adormecida impunemente. Mas sei que preciso cuidar dela. A literatura não me bastou, e isso talvez explique as sucessivas crises a partir do doutorado, em que passei a manter uma relação tensa com o texto literário, hipertrofiado por necessidades que ele não pode atender. A escolha da crítica literária como percurso me deu a dimensão desse impasse. E se eu tivesse escolhido a filosofia? Provavelmente o mesmo impasse ou conflito estaria sendo vivenciado. Se eu tivesse escolhido a Física? Teria abandonado, como abandonei a Biologia. E não quero abandonar a literatura, uma das melhores descobertas da minha vida. Tenho certeza de que Kafka foi decisivo, até para me dar recursos que pudessem me salvar do mundo que engoliu suas personagens. Então é isso. Estou jogando a toalha, depois de vinte anos de embate. Passei o dia de ontem, após um ritual simples de Reiki, com uma arritmia, um bater de coração descompassado, que só acalmou com o sono. É só se explica porque estou dando atenção, ensejo, a vozes que estão gritando, porque fizeram parte de minha constituição como ser. Escrever isso é uma forma de me acalmar, pois nunca consegui entender o que foi a experiência de 2010, as coisas que foram postas em movimento, catalisadas pelo Reiki, eu que já havia começado o ano em crise e com uma forte demanda espiritual. Cheguei a ligar para um amigo, chorando muito, numa tarde em que não conseguia entrar numa igreja, não adiantava tentar. Já havia então entrado em algumas, e coisas novas e diferentes começaram a acontecer. O Reiki (ou o que estava se passando em mim) foi muito forte, entrou e desbaratinou tudo. Deixei quieto, até acalmar. Se essa demanda não for atendida, meu incompleto ser pode estar flertando perigosamente com o que é precário. 2010 ficou como um enigma, mas também como um alerta. 

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