Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 22 de maio de 2011

patinho feio ou belo cisne?

A vantagem de não ter lido certas histórias durante a infância é a possibilidade de se surpreender com aquilo que todos já sabem. Conhecia por alto a história do patinho feio, de Hans Christian Andersen, mas nada sabia de seu desfecho. Na minha cabeça, a história gravitava apenas em torno da inadequação do patinho, e imaginava uma possível aceitação pelo grupo. Surpreendi-me com a descoberta do patinho, de que era um belo cisne. A história parece querer mostrar o quanto o olhar do outro condiciona o próprio olhar. Num mundo em que a coerção do grupo recebeu um substancioso impulso das redes sociais, sentir-se inadequado pode ser um sinal de saúde, de vida que resiste: ninguém é obrigado a vestir-se de pato só porque todos acham que este é o melhor perfil. 

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