Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 16 de junho de 2011

liberdade

Na véspera de minha mudança, quase madrugada, escrevi isso, enquanto encaixotava livros e objetos. Escrevi, mas postei acolá. Não, não há contradição: escrevi lá.

Enquanto arrumo as coisas para a mudança, abri a porta da casa onde moro pela última noite para verificar a caixa do correio. E uma brisa muito agradável arejava a área externa. Resolvi deixar a porta aberta, para a brisa entrar. Nunca, antes, eu havia notado essa brisa, ou se notei não lhe dei importância, talvez pelo horário, quase meia noite, talvez pelo hábito de chegar, entrar rápido e fechar a porta. Então sei que não abri a porta para verificar o correio: abri-a para receber a brisa agradável, deixar o frescor adentrar a casa. Porque amanhã não estarei mais aqui, e é preciso que as coisas saiam um pouco de seus eixos para que esses momentos de intensa liberdade possam ter ensejo: a porta aberta da casa à noite, sem qualquer perigo. Estou deixando isso, pelo conforto de um apartamento, cuja porta ficará permanentemente fechada. Mas não se trata de uma negociata, em que perdas e ganhos são computados. Porque sei que levarei esta porta aberta comigo, minha liberdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário