Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 9 de janeiro de 2011

Folia de Reis

Está na época. Mas não passarão por aqui, pois se trata de uma metrópole. Hoje é domingo, e a circunstância de um aniversário (não meu) trouxe parte de minha família ao Rio de Janeiro. Então acordei com uma coisa bem interiorana: viemos tomar café na sua casa. Rapidamente se pôs uma mesa, enquanto as pessoas iam falando, sentando, comendo. Casa silenciada novamente, de vozes familiares e afetuosas que remontam a um outro tempo, lembrei-me então de outras vozes, da Folia de Reis, nos idos da infância, de forte tradição no interior do meu estado, Espírito Santo, quando, à noite, passava um grupo de cantadores pela minha casa, fantasiados às vezes, que eu espreitava entre a curiosidade e o medo. Parte da família acaba de retornar para o ES, e eu descubro uma coisa: me relaciono melhor com tudo isso estando na minha casa. O amor não é um sentimento fácil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário