Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

hipocrisia

A hipocrisia é tanto mais detestável quando se descobre a facilidade com que se recorre a ela, quando, olhando para si próprio, é difícil admiti-la como atitude. A hipocrisia é um desfavor à saúde, e por uma razão bem simples: o hipócrita não respeita a dor do outro. O hipócrita é aquela criatura mediana que, tentando se fazer passar pelo bom-mocismo, adere como figurante ao teatro das convenções, e fica na caricatura. É um aviltamento, uma vulgaridade.

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