Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

diz-me uma amiga ao telefone

Ainda uso esse instrumento prestes a enferrujar pela avalanche das redes sociais, o telefone. Pouco, mas uso. Para falar com pessoas amigas, por exemplo, ou completamente desconhecidas (atendentes de telemarketing). E foi ao telefone que ouvi uma coisa muito pertinente, de uma amiga: é preciso tomar cuidado para não ficar se repetindo, escrevendo sempre o mesmo texto. Já ouvi depoimentos de atores dizendo que se afastaram da teledramaturgia porque perceberam que lhes era reservado sempre o mesmo papel (e na televisão há casos notórios de múmias, pois incorporaram um papel e não vão mais sair dele, aliás nem querem). O perigo de se repetir é o engessamento. Então, quando minha amiga falou isso, eu ouvi com mais vagar, porque ser apenas um, um só personagem, é de um empobrecimento desolador. No extremo, é tornar-se atendente de telemarketing.

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