Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 24 de junho de 2011

recados do sertão

De minha assombrosa experiência em Goiás,  em torno de um feriado de 02 de novembro ― o que tornou tudo mais insólito, pois senti morte e vida intensamente próximas ―, em que passei mal longe de casa, de tudo, ficou-me a lembrança do médico, de suas palavras, experiência que, para não perder, já que ela sempre me chega numa nebulosa, tentei registrar em dois posts, os recados do sertão (aqui e aqui). Eu não só não esqueço o que vivi como a lembrança assídua dessa turbulência (para mal de meus pecados e do meu medo de avião) diz de outras, recentes. Então ele disse algo assim: na travessia de um rio, quando as águas se agitam muito, o melhor a fazer é buscar um modo melhor de respirar, que as próprias águas vão se encarregar de conduzir a uma margem mais tranquila. Que a profissão daquele estranho ser seja a medicina (e que Guimarães Rosa tenha sido médico antes de se fazer diplomata e escritor) me traz um estranho conforto, de que eu tenho os recursos, estão à minha mão.

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