Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 24 de outubro de 2010

Charles Baudelaire

Tratando especificamente de Charles Baudelaire, Antonio Candido situa o espectro da influência que sua poesia teve entre os poetas brasileiros: “Já se tem escrito que o momento culminante da influência de Baudelaire no Brasil foi o Simbolismo, no decênio de 1890 e primeiros anos do seguinte. Momento fin-de-siècle, rosa-cruz e floral, que viu nele sobretudo a arte-pela-arte, o visionário sensível ao mistério das correspondências e o filósofo, autor de poemas sentenciosos marcados pelo desencanto. Logo a seguir os últimos poetas de cunho simbolista [...] o aproximaram perigosamente das elegâncias decadentes de Wilde e D’Annunzio. Os parnasianos, que vinham dos anos de 1880, também o admiravam, mas nunca o imitaram nem cultivaram tanto, salvo alguns secundários como Venceslau de Queirós e sobretudo Batista Cepelos. E caberia a um heterodoxo, Augusto dos Anjos, levar ao extremo certas componentes de amargura, senso de decomposição e castigo da carne, que se consideravam originárias dele, coadas através de Antero de Quental e Cruz e Souza. Depois do Modernismo não se pode mais falar em influência, mas apenas da presença normal de um grande poeta na sensibilidade dos escritores e leitores.”

CANDIDO, Antonio. Os primeiros baudelairianos. In: ___. A educação pela noite. 5. ed. revista pelo autor. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006, p. 27.

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