Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

uma escrita entranhada na vida

De repente, me dei conta de que este espaço se tornou mais do que cotidiano. Nunca pensei que escrever, falar, fosse se revelar tão importante. É claro que vem sempre alguém me lembrar da tese, e eu respondo: está a caminho... Ouso pensar que minha tese está se fazendo por esta escrita, aqui, a contrapelo, pelo avesso... Porque eu precisava disso, de um estímulo, de um desafio para pensar. Aqui eu sinto isso muito intensamente. E sinto de forma especialmente aguda o embate em torno de erguer uma voz, entre tantas. Mas eu estou simplesmente apaixonada por isso, não consigo parar. Percebo uma ligação remota com aquele gosto em escrever que sempre tive na escola, não obstante tratar-se de uma escrita controlada. E aqui não é? Seria ingênuo supor que não. Mas cada post é uma tentativa de escapar a isso, ao controle pressentido, intuído. Não se trata de qualquer artifício, mesmo porque há um imenso perigo neles ― em geral os estratagemas atraem os próprios agentes. Mas a vida é mais do que isso, muito mais. E à obstinação com que me lancei neste espaço devo o meu efetivo reencontro com a poesia. Já era tempo.

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