A canção de Manuel Bandeira
Já fui sacudido, forte,
De bom aspecto, sadio,
Como os rapazes do esporte.
Hoje sou lívido e esguio.
Quem me vê pensa na morte.
O meu mal é um mal antigo.
Aos dezoito anos de idade
Começou a andar comigo.
E esta sensibilidade
Põe minha vida em perigo!
Já sofri a dor secreta
De não ser ágil e vivo.
Mas, enfim, eu sou poeta.
Tenho nervos de emotivo
E não músculos de atleta.
As truculências da luta!
Para estas mãos não existe
O encanto da força bruta.
... Nada como um verso triste
― Verso, lágrima impoluta...
(O bem que há num verso triste!)
Poemetos de ternura e melancolia (1924).
Roteiro da poesia brasileira: Pré-modernismo. Seleção Alexei Bueno. São Paulo: Global, 2007, p.171.
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