Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 24 de outubro de 2010

metáforas náuticas

Sonhos são mares encapelados, difíceis de navegar, dos quais se acorda com a sensação de quem retorna de uma terra estrangeira ― para mais um dia de terra supostamente familiar, ao longo do qual as imagens estranhas vão se diluir, mas podendo voltar num lampejo, numa fala, numa decisão (tomada no ato de acordar do sonho, embora nem sempre se saiba que é assim). E o dia eventualmente retornará na noite seguinte, em forma de signos confusos, textos fragmentários misturados, imagens díspares tramando uma insólita contiguidade entre si. A trama da noite tece com o enredo do dia um diálogo de fios tênues, soltos, evasivos, um tecido  atravessado de ruídos ― noite e dia  em que navegam, qual Ulisses, homem e vida. 

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