Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 3 de outubro de 2010

"Don’t Look Back", D.A. Pennebaker (1967)

A versão tupiniquim do documentário "Don't Look Back", cobrindo a turnê britânica de 1965 de Bob Dylan, não traz "It's All Over Now, Baby Blue" ao vivo, mas apenas como uma faixa bônus (só som), e uma espécie de ensaio da canção. Provavelmente conste na versão mais cara, importada, que me dispensei de comprar, pelo menos por enquanto. Quanto ao documentário em si, Bob Dylan é uma metralhadora quando o assunto é entrevista. Assusta a coragem que ele demonstra para dizer o que pensa, o que não pensa, o que pensa pensar. Há diálogos imperdíveis. E mais: o documentário capta aquele momento de transição em que Bob Dylan está prestes a transformar sua música. Joan Baez ainda aparece, talvez já pressentindo o fim da parceria. Acaso ou não, é ela que começa, casualmente, a cantarolar "Baby Blue", e Bob Dylan começa a anotar e diz que quer terminar a música. Trata-se, assim, de um registro raro, sua última turnê antes de introduzir a guitarra e lançar "Like a Rolling Stone", um marco divisório em sua carreira. Trailer aqui.

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