Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 12 de março de 2011

tenho uma Bisa Bia, não serei Bisa Bel

Na verdade, tenho uma Bisa Bel. Explico: ao mexer em papeis antigos na casa da minha falecida avó materna, deparei-me com alguns documentos referentes à imigração. Juntei tudo, e está guardado na casa de minha mãe. Já tinha ouvido falar de minha bisavó, havia inclusive um retrato dela na parede ao lado de meu bisavô, a cara trancada, séria. Não sei onde foi parar essa fotografia antiga. Me contaram seu nome: Anna Elizabeth Hoffman (não tenho certeza da grafia correta). Um nome como este parece ser o de uma fortaleza. Vi num papel miúdo escrito Anna, passaporte de vinda para o Brasil com um ano de idade, proveniente de um cantão da Suíça (os demais antepassados vieram da Itália). Me apaixonei pelo nome, lamentando que o sobrenome tenha se perdido na ladainha matrimonial e civil que faz a mulher agregar o sobrenome do marido, apagando ou ofuscando o seu. O sobrenome que trago comigo vem do lado masculino da família, de meu bisavô paterno. Então, numa dada época, quando nutri fantasias ligeiras de ter uma filha, tinha certeza de que ela se chamaria Anna Elizabeth, nada menos que um nome de rainha. Sem ter tido uma filha, eu fiz certa Anna Elizabeth existir, inclusive por um apelido carinhoso: Belinha.


Contextualizando: Bisa Bia, Bisa Bel tem como eixo o estranho diálogo que a menina Isabel estabelece com sua bisavó Bia e, ao mesmo tempo, com uma futura bisneta sua, para quem ela se torna Bisa Bel. 

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