Não é que esta versão ao piano me transporte, por exemplo, até uma igreja. Seria pouco, e eu me sentiria desconfortável. Ela me transporta até o sagrado, não aquele dos píncaros e deuses, que afinal talvez nem exista (as moedas de Borges...), mas o sagrado que reconheço em mim, e que afinal é a fonte de outras formas do sagrado (para mim, acrescentando), como meu amor sem limites pela palavra. Um detalhe: a moldura da execução da canção ao piano, a famosa capa dos Beatles, é duplicada pelos próprios quadros emoldurados na parede.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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