Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Into The Wild (Sean Penn, 2007)


Todo mundo assistiu Na Natureza Selvagem, do competente Sean Penn. Trata-se apenas então de assinalar um incômodo, que o filme deixa em aberto. Esse incômodo é a própria natureza e o desejo de se integrar a ela. Nada no filme foge do mito romântico, em nenhum momento o adjetivo selvagem que acompanha o substantivo natureza representa uma ameaça à integridade psíquica ou moral do personagem, que vai ao encontro de si mesmo, fugindo da civilização e seus vícios, mas um "si mesmo" já latente nessa busca: no extremo selvagem da natureza ele encontra a poesia. É tocante o modo como o personagem se despe (sem saber que estava também se despedindo) da civilização, tornando-se, assim, mais e mais belo. Ele continua inabalável no seu desejo de forjar um novo homem, na extrema solidão, nos extremos da natureza. Não conseguindo sobreviver a esses extremos, fica ecoando a pergunta sobre como seria este novo homem, caso o personagem tivesse conseguido retornar. Para onde ele estaria voltando?

Ah, a belíssima epígrafe de Perto do coração selvagem: “Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida” (James Joyce). Impossível não estar feliz quando perto do coração selvagem... da vida. 

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