Todo mundo assistiu Na Natureza Selvagem, do competente Sean Penn. Trata-se apenas então de assinalar um incômodo, que o filme deixa em aberto. Esse incômodo é a própria natureza e o desejo de se integrar a ela. Nada no filme foge do mito romântico, em nenhum momento o adjetivo selvagem que acompanha o substantivo natureza representa uma ameaça à integridade psíquica ou moral do personagem, que vai ao encontro de si mesmo, fugindo da civilização e seus vícios, mas um "si mesmo" já latente nessa busca: no extremo selvagem da natureza ele encontra a poesia. É tocante o modo como o personagem se despe (sem saber que estava também se despedindo) da civilização, tornando-se, assim, mais e mais belo. Ele continua inabalável no seu desejo de forjar um novo homem, na extrema solidão, nos extremos da natureza. Não conseguindo sobreviver a esses extremos, fica ecoando a pergunta sobre como seria este novo homem, caso o personagem tivesse conseguido retornar. Para onde ele estaria voltando?
Ah, a belíssima epígrafe de Perto do coração selvagem: “Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida” (James Joyce). Impossível não estar feliz quando perto do coração selvagem... da vida.
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